DOM QUIXOTE DE LA MANCHA, Miguel de
Cervantes
Daí que, finalmente, encarei um dos livros que mais desejava nos últimos
tempos: O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha!
Sempre gostei muito da Espanha, mesmo antes de ter a oportunidade de
conhecer Madri no ano passado! A sua história e geografia contribuem para um
sonho distante de lá morar, nem que seja temporariamente como meus amigos César
Teixeira, Harold Hoppe, Marco Antônio Dalla Costa e Cristina Landerdahl. Meu
interesse é inexplicável, até porque minhas origens remontam os
vizinhos Portugal e Itália, mas tenho que a cultura da Espanha
é algo para ser explorado nessa vida, e eu começo com a literatura!
Dom Quixote é o maior expoente da literatura espanhola e faz mais de
400 anos que encanta o imaginário da população e turistas (está em todas as
lojas de souvenirs da capital!!) porque o protagonista traduz – mesmo que na sua
loucura – o ideal de homem honrado, com princípios, e que batalha pelo
que acredita certo.
O artista plástico Kleber Galvêas escreveu que Dom Quixote é uma
obra genial escrita no olho do furacão da Inquisição (Espanha). É
sátira cruel ao homem, que abdica da individualidade, moldando sua vida e
sentimentos pela palavra escrita e, que é capaz de jurar, com a mão sobre o
livro, ter fé, seguir os preceitos e dizer a verdade.Novela composta com
inteligência e sutileza, foi examinada e aprovada por doutores, em teologia, de
tribunais poderosos e sem paralelo na história.
A parte 1 do DOM QUIXOTE foi minha leitura de maio e, s.m.j., uma das
mais marcantes da minha breve vida! Óbvio que não poderia ser ´´do nada`` que
um livro ou autor é elevado a melhor do mundo, ou melhor de sua época!Dado o
contexto histórico da Espanha de 1605 – ano em que Miguel de Cervantes publicou
a primeira parte da obra -, este autor foi tido como revolucionário e sua
obra-prima a expressão máxima do Romance moderno! Tem todo um lance
de protesto político-social-religioso contra o excesso cavaleiresco e
nobilizante idealismo do Renascimento, motivo pelo que muitos autores se
debruçaram (e se debruçam) nas entrelinhas para publicarem trabalhos e teses
sobre o engenhoso fidalgo e seu criador Cervantes.
E, por conta da imensidão de interpretações da obra, a minha ousadia
(capacidade) esbarra na minha humildade (modéstia) de ter feito este singelo
escrito que agora vos ofereço a ler, e para quem interessar possa que busque na
Enciclopédia Barsa (!) ou Google mais detalhes sobre!!
Para se localizar (como também o fiz antes de abrir o livro!), sugiro
que procure um mini-apanhado histórico da Espanha daquela época e a
biografia do Miguel de Cervantes y Saavedra – não vou fazer isso aqui
senão o post vai ficar gigante! ((Século de ouro
espanhol, Don Quixote de
la Mancha e Espanha)).
O livro é composto por 126 capítulos, divididos em duas partes:
a primeira publicada em 1605 e a outra em 1615.Quero destacar que se trata
de uma leitura meio densa, não quanto ao conteúdo exatamente, mas quanto a
linguagem utilizada. Não é o tipo de livro que tu consiga ler na
multidão, no ônibus, na praia etc. A meu ver é preciso escolher um lugar calmo,
tranquilo e com mínimo de distração para poder render. ;)
O texto tem muitas observações e notas de rodapé em que o autor faz
links de outros autores e livros dos quais a gente nunca ouviu ou vai ouvir
falar!! (Cultura geral nunca é demais.. uma rápida busca na internet vai
ajudar!).Sem falar nas palavras ´´difíceis`` (onze a cada dez! #brinks!) que
enchem os olhos e enriquecem o vocabulário, mas que não prejudicam a
compreensão de alguém já diplomado! Heheh :D
Destaco duas das mais marcantes características desta obra-prima: LINGUAGEM
REBUSCADA e HUMOR. Com uma linguagem burlesca e pitoresca, a narrativa
convence (#novela realista!), comove, instiga e motiva.
A linguagem ULTRA rebuscada até poderia se tornar um obstáculo, não
fossem as altas doses de humor que Cervantes se utiliza para demonstrar o
devaneio do Cavaleiro da Triste Figura! Considerando que Cervantes teve
por ideal PARODIAR romances de cavalaria que pululavam aquele período na
Europa, os contrastes exagerados e o consequente humor são instrumentos
certeiros para tanto! ((Nesse aspecto não posso deixar de comparar com
Voltaire, que também usou do humor para criticar a obra do Leibniz (Vide post
anterior!))
Afinal, quem é Dom Quixote?
´´Orçava na idade o nosso fidalgo pelos cinquenta anos. Era rijo de
compleição, seco de carnes, enxuto de rosto, madrugador, e amigo da caça``.
É um fidalgo castelhano de La Mancha (um dos tantos povoados da Espanha)
que de muito ler livros sobre aventuras e heróis destemidos resolve VIRAR um
herói da noite para o dia...
´´Em suma, tanto
naquelas leituras se enfrascou, que passava as noites de claro em claro e os
dias de escuro em escuro, e assim, do pouco dormir e do muito ler, se lhe secou
o cérebro, de maneira que chegou a perder o juízo. Encheu-se-lhe a fantasia de
tudo que achava nos livros, assim de encantamentos, como pendências, batalhas,
desafios, feridas, requebros, amores, tormentas e disparates impossíveis; e
assentou-se-lhe de tal modo na imaginação ser verdade toda aquela máquina de
sonhadas invenções que lia, que para ele não havia história mais certa no
mundo.``(capítulo I)
Uma vez alterado o juízo ou, melhor dizendo, enlouquecido, (...) pareceu-lhe
convinhável e necessário, assim para aumento de sua honra própria, como para
proveito da república, fazer-se cavaleiro andante, e ir-se por todo o
mundo, com as suas armas e cavalo, à cata de aventuras, e exercitar-se em tudo
o que tinha lido se exercitavam os da andante cavalaria, desfazendo todo o
gênero de agravos, e pondo-se em ocasiões e perigos, donde, levando-os a
cabo, cobrasse perpétuo nome e fama (capítulo I).
Para sua empreitada foi necessário eleger um cavalo, a quem
nomeou ROCINANTE – quase personificado durante a história –, e
um fiel escudeiro, o vizinho Sancho Pança (cuja montaria é um asno!).
Este, por sua vez, recebe a fantástica promessa de ´´ganhar`` uma ilha para
governar, em troca da parceria nas aventuras com Quixote, seu amo.
A história é muito legal e engraçada, com DESventuras hilárias, supostas
lições de moral e Sancho como uma metralhadora de provérbios. o/
Dom Quixote usa os óculos da fantasia de herói para buscar batalhas,
enquanto que Pança TENTA puxá-lo para a realidade, o que raramente consegue..
Como escreveu a professora paranaense Eva Paulino Bueno: Dom
Quixote viu exércitos de guerreiros, Sancho viu um rebanho de carneiros. Quando
Dom Quixote viu gigantes, Sancho viu moinhos. (...) O movimento
pendular entre o idealismo do cavaleiro e o realismo popular do seu escudeiro é
a própria trama de todo o romance. Se ainda hoje o leitor vibra com Quixote e
ri de Sancho, é porque se emociona com a capacidade que esses personagens tem
de tocar no que temos de mais profundo, nas inúmeras contradições que
carregamos em segredo dentro de nós. (...)
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