sexta-feira, 6 de setembro de 2013

ASPECTO HISTÓRICO DA OBRA: DON QUIXOTE DE LA MANCHA



DOM QUIXOTE DE LA MANCHA, Miguel de Cervantes

    Daí que, finalmente, encarei um dos livros que mais desejava nos últimos tempos: O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha!
Sempre gostei muito da Espanha, mesmo antes de ter a oportunidade de conhecer Madri no ano passado! A sua história e geografia contribuem para um sonho distante de lá morar, nem que seja temporariamente como meus amigos César Teixeira, Harold Hoppe, Marco Antônio Dalla Costa e Cristina Landerdahl. Meu interesse é inexplicável, até porque minhas origens remontam os vizinhos Portugal e Itália, mas tenho que a cultura da Espanha é algo para ser explorado nessa vida, e eu começo com a literatura!

      Dom Quixote é o maior expoente da literatura espanhola e faz mais de 400 anos que encanta o imaginário da população e turistas (está em todas as lojas de souvenirs da capital!!) porque o protagonista traduz – mesmo que na sua loucura – o ideal de homem honrado, com princípios, e que batalha pelo que acredita certo.
O artista plástico Kleber Galvêas escreveu que Dom Quixote é uma obra genial escrita no olho do furacão da Inquisição (Espanha). É sátira cruel ao homem, que abdica da individualidade, moldando sua vida e sentimentos pela palavra escrita e, que é capaz de jurar, com a mão sobre o livro, ter fé, seguir os preceitos e dizer a verdade.Novela composta com inteligência e sutileza, foi examinada e aprovada por doutores, em teologia, de tribunais poderosos e sem paralelo na história.

A parte 1 do DOM QUIXOTE foi minha leitura de maio e, s.m.j., uma das mais marcantes da minha breve vida! Óbvio que não poderia ser ´´do nada`` que um livro ou autor é elevado a melhor do mundo, ou melhor de sua época!Dado o contexto histórico da Espanha de 1605 – ano em que Miguel de Cervantes publicou a primeira parte da obra -, este autor foi tido como revolucionário e sua obra-prima a expressão máxima do Romance moderno! Tem todo um lance de protesto político-social-religioso contra o excesso cavaleiresco e nobilizante idealismo do Renascimento, motivo pelo que muitos autores se debruçaram (e se debruçam) nas entrelinhas para publicarem trabalhos e teses sobre o engenhoso fidalgo e seu criador Cervantes.
E, por conta da imensidão de interpretações da obra, a minha ousadia (capacidade) esbarra na minha humildade (modéstia) de ter feito este singelo escrito que agora vos ofereço a ler, e para quem interessar possa que busque na Enciclopédia Barsa (!) ou Google mais detalhes sobre!! 
Para se localizar (como também o fiz antes de abrir o livro!), sugiro que procure um mini-apanhado histórico da Espanha daquela época e a biografia do Miguel de Cervantes y Saavedra – não vou fazer isso aqui senão o post vai ficar gigante! ((Século de ouro espanholDon Quixote de la Mancha e Espanha)).
O livro é composto por 126 capítulos, divididos em duas partes: a primeira publicada em 1605 e a outra em 1615.Quero destacar que se trata de uma leitura meio densa, não quanto ao conteúdo exatamente, mas quanto a linguagem utilizada. Não é o tipo de livro que tu consiga ler na multidão, no ônibus, na praia etc. A meu ver é preciso escolher um lugar calmo, tranquilo e com mínimo de distração para poder render. ;)

O texto tem muitas observações e notas de rodapé em que o autor faz links de outros autores e livros dos quais a gente nunca ouviu ou vai ouvir falar!! (Cultura geral nunca é demais.. uma rápida busca na internet vai ajudar!).Sem falar nas palavras ´´difíceis`` (onze a cada dez! #brinks!) que enchem os olhos e enriquecem o vocabulário, mas que não prejudicam a compreensão de alguém já diplomado! Heheh :D

Destaco duas das mais marcantes características desta obra-prima: LINGUAGEM REBUSCADA e HUMOR. Com uma linguagem burlesca e pitoresca, a narrativa convence (#novela realista!), comove, instiga e motiva. 
A linguagem ULTRA rebuscada até poderia se tornar um obstáculo, não fossem as altas doses de humor que Cervantes se utiliza para demonstrar o devaneio do Cavaleiro da Triste Figura! Considerando que Cervantes teve por ideal PARODIAR romances de cavalaria que pululavam aquele período na Europa, os contrastes exagerados e o consequente humor são instrumentos certeiros para tanto! ((Nesse aspecto não posso deixar de comparar com Voltaire, que também usou do humor para criticar a obra do Leibniz (Vide post anterior!))

   Afinal, quem é Dom Quixote? 
´´Orçava na idade o nosso fidalgo pelos cinquenta anos. Era rijo de compleição, seco de carnes, enxuto de rosto, madrugador, e amigo da caça``.
É um fidalgo castelhano de La Mancha (um dos tantos povoados da Espanha) que de muito ler livros sobre aventuras e heróis destemidos resolve VIRAR um herói da noite para o dia...

      ´´Em suma, tanto naquelas leituras se enfrascou, que passava as noites de claro em claro e os dias de escuro em escuro, e assim, do pouco dormir e do muito ler, se lhe secou o cérebro, de maneira que chegou a perder o juízo. Encheu-se-lhe a fantasia de tudo que achava nos livros, assim de encantamentos, como pendências, batalhas, desafios, feridas, requebros, amores, tormentas e disparates impossíveis; e assentou-se-lhe de tal modo na imaginação ser verdade toda aquela máquina de sonhadas invenções que lia, que para ele não havia história mais certa no mundo.``(capítulo I)

 Uma vez alterado o juízo ou, melhor dizendo, enlouquecido, (...) pareceu-lhe convinhável e necessário, assim para aumento de sua honra própria, como para proveito da república, fazer-se cavaleiro andante, e ir-se por todo o mundo, com as suas armas e cavalo, à cata de aventuras, e exercitar-se em tudo o que tinha lido se exercitavam os da andante cavalaria, desfazendo todo o gênero de agravos, e pondo-se em ocasiões e perigos, donde, levando-os a cabo, cobrasse perpétuo nome e fama (capítulo I).

      Para sua empreitada foi necessário eleger um cavalo, a quem nomeou ROCINANTE – quase personificado durante a história –, e um fiel escudeiro, o vizinho Sancho Pança (cuja montaria é um asno!). Este, por sua vez, recebe a fantástica promessa de ´´ganhar`` uma ilha para governar, em troca da parceria nas aventuras com Quixote, seu amo.

     A história é muito legal e engraçada, com DESventuras hilárias, supostas lições de moral e Sancho como uma metralhadora de provérbios. o/
Dom Quixote usa os óculos da fantasia de herói para buscar batalhas, enquanto que Pança TENTA puxá-lo para a realidade, o que raramente consegue..
Como escreveu a professora paranaense Eva Paulino Bueno: Dom Quixote viu exércitos de guerreiros, Sancho viu um rebanho de carneiros. Quando Dom Quixote viu gigantes, Sancho viu moinhos. (...) O movimento pendular entre o idealismo do cavaleiro e o realismo popular do seu escudeiro é a própria trama de todo o romance. Se ainda hoje o leitor vibra com Quixote e ri de Sancho, é porque se emociona com a capacidade que esses personagens tem de tocar no que temos de mais profundo, nas inúmeras contradições que carregamos em segredo dentro de nós. (...)

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